Pedindo aquilo que enriquecerá nossa vida

Assumindo a responsabilidade por nossos sentimentos e expressando nossas necessidades
28 de setembro de 2021

Pedindo aquilo que enriquecerá nossa vida

Pedindo aquilo que enriquecerá nossa vida

Depois de expressarmos nossas observações, sentimentos e necessidades, precisamos fazer um pedido específico. Nesse ponto, surgem muitas dúvidas sobre como ter a assertividade necessária. Portanto, buscaremos responder aqui como expressar os pedidos de modo que os outros estejam dispostos a responder de forma compassiva às nossas necessidades.

O primeiro passo é usar uma linguagem de ações positivas. Ou seja, devemos expressar o que estamos pedindo, e não o que não estamos pedindo. Por que?

  1. as pessoas ficam confusas quanto ao que está sendo pedido e
  2. solicitações negativas provocam resistências

Veja um exemplo:

A esposa pede para o marido não passar tanto tempo no trabalho. Três semanas depois, ele reagiu anunciando que havia se inscrito num torneio de golfe!

O que aconteceu nesse exemplo? A pessoa falou sobre uma coisa que não queria, e se esqueceu de dizer o que queria.

Uma sugestão de comunicação é: “Gostaria que você passasse pelo menos três noites em casa comigo”.

 Veja outras dicas além de utilizar a linguagem positiva:

  • Evitar frases vagas, abstratas ou ambíguas (“Quero ser eu mesmo”, “Quero ele seja responsável”, “Desejo apenas funcionários honestos”, “Gosto de pessoas trabalhadoras”, “Quero que se sintam livres para se expressar em minha presença”).
  • Formular nossas solicitações na forma de ações concretas que os outros possam realizar – e avaliar se seu pedido pode ser atendido pela outra pessoa.

Fazendo pedidos conscientemente

Estamos pedindo coisas o tempo todo, mas nem sempre estamos conscientes de que estamos pedindo. As pessoas geralmente conversam sem estar conscientes do que estão pedindo, mas sempre existe algo, como reconhecimento verbal ou não-verbal, honestidade (o que o outro acha) ou uma ação (que satisfaça uma necessidade).

Nos casos abaixo, temos exemplos de pedidos malfeitos:

“Estou aborrecido(a) por que você se esqueceu das cebolas para o jantar”. Neste caso, a pessoa ouve a frustração do outro, mas não o que estava sendo pedido.

“Por que você não vai cortar o cabelo?”. Ao fazer um pedido sem comunicar os sentimentos e necessidades por trás deles, o outro não irá se engajar numa resposta, além de possivelmente se sentir ofendido.

Pedindo um retorno

Agora que enviamos uma mensagem, precisamos garantir que ela foi recebida pelo outro. Dependemos de pistas verbais para determinar se nossa mensagem foi compreendida da forma como queríamos. Para termos uma comunicação fluida, é importante evitar mal-entendidos.

Um exercício é perguntar para a outra pessoa se seu pedido ficou claro, e se ela pode repetir com as próprias palavras o que compreendeu.

Se a pessoa não te compreendeu, não diga: “Você não entende nada”, “Não foi isso que eu disse”. E, sim: “Obrigado(a) por me dizer o que escutou, mas vejo que não consegui ser tão clara. Eu queria dizer que…”.

Ao mesmo tempo, confirmar se a mensagem foi ou não bem entendida pode causar resistências: “Eu ouvi o que você disse! Não sou estúpido!” ou “Não sou surdo!”.

Aproveite essas oportunidades para exercitar seus conhecimentos da CNV:

“Você está dizendo que ficou chateado porque deseja ser respeitado pela sua capacidade de compreender as coisas?”

Pedindo honestidade

Depois de expressarmos abertamente e recebermos a compreensão, desejamos receber honestidade por um dos três caminhos:

  1. O que o ouvinte está sentindo – quais foram os sentimentos estimulados pelo que dissemos. “Gostaria que você me dissesse como se sente a respeito do que acabei de falar e suas razões para sentir-se assim”
  2. O que o ouvinte está pensando – quais foram os pensamentos diante do que pedimos. “Gostaria que você me dissesse se prevê que minha proposta terá sucesso e, caso contrário, o que você acha que pode impedir seu sucesso”. Evitar falar: Gostaria que você me dissesse o que acha do que acabei de dizer”.
  3. Se o ouvinte está disposto a tomar determinada atitude – “Gostaria que você me dissesse se estaria disposto a…”.

Pedidos versus exigências

Para estabelecermos uma comunicação não-violenta com os outros, é importante distinguir entre pedidos e exigências. E onde está o limite entre eles?

Pedidos são recebidos como exigências quando os outros acreditam que serão culpados ou punidos se não os atenderem. Quando as pessoas nos ouvem fazer uma exigência, elas enxergam duas opções: submissão ou rebelião.

Em ambos os casos, a pessoa que faz o pedido é percebida como coercitiva, e a capacidade do ouvinte de responder compassivamente ao pedido é diminuída.

Como podemos ajudar os outros a perceberem que estamos pedindo, e não exigindo?

  1. Indique que gostaríamos que a pessoa atendesse ao nosso pedido apenas se ela pudesse fazê-lo de livre vontade e
  2. Ofereça empatia quando elas não atendem ao nosso pedido.

Só assim abrimos espaço para uma comunicação autêntica e que leve em consideração as necessidades tanto pessoais quanto das outras pessoas.

Definindo nosso objetivo ao fazer pedidos

Expressar pedidos genuínos requer uma consciência do nosso objetivo.

Nosso objetivo é mudar as pessoas e seus comportamentos? Então a CNV não é uma ferramenta apropriada.

CNV = estabelecer um relacionamento baseado na sinceridade e empatia.

Durante as fases iniciais do processo de aprendizado da CNV, podemos aplicar os componentes da CNV mecanicamente, sem consciência de seus propósitos.

Às vezes, mesmo quando temos consciência dos nossos objetivos e expressamos tudo cuidadosamente, as pessoas podem ouvir neles uma exigência. Isso é comum quando ocupamos posições de autoridade e estamos falando com pessoas que tiveram experiências passadas com figuras de autoridade.

Outros pensamentos que transformam pedidos em exigências:

  • Ele deveria se arrumar sozinho
  • Espera-se que ela faça o que eu peço.
  • Eu mereço um aumento.
  • Tenho motivos para querer que eles fiquem até mais tarde
  • Tenho o direito de ter mais tempo de folga.

Insights

  • Use uma linguagem positiva ao fazer pedidos
  • Formular pedidos em uma linguagem clara, positiva e de ações concretas revela o que realmente queremos
  • Uma linguagem vaga favorece a confusão interna
  • A depressão é a recompensa por sermos “bons”
  • Pode não ficar claro para o ouvinte o que queremos que ele faça quando simplesmente expressamos nossos sentimentos
  • É comum não termos consciência do que estamos pedindo
  • Solicitações não acompanhadas dos sentimentos e necessidades do solicitante podem soar como exigências
  • Quanto mais claros formos a respeito do que queremos obter, mais provável será que o consigamos
  • Para ter certeza de que a mensagem que enviamos é a mesma que foi recebida, podemos pedir ao ouvinte que a repita para nós
  • Expresse apreciação quando o ouvinte tenta atender a seu pedido de repetição
  • Demonstre empatia com um ouvinte que não queria atender seu pedido
  • Depois de nos expressarmos de forma vulnerável, é comum que queiramos saber:
    • O que o ouvinte está sentindo
    • O que o ouvinte está pensando ou
    • Se o ouvinte está disposto a tomar determinada atitude
  • Num grupo, perde-se muito tempo quando as pessoas não estão certas de que tipo de resposta desejam em retorno a suas palavras
  • Quando outra pessoa ouve de nós uma exigência, ela vê duas opções: submeter-se ou rebelar-se
  • Como saber se é uma exigência ou um pedido: observe o que quem pediu fará se a solicitação não for atendida
  • É uma exigência se quem fez a solicitação crítica ou julga a outra pessoa em seguida
  • Também é uma exigência se quem fez a solicitação tenta fazer a outra pessoa se sentir culpada
  • É um pedido se uma pessoa que pediu oferece em seguida sua empatia para com as necessidades da outra pessoa
  • Nosso objetivo é um relacionamento baseado na sinceridade e na empatia

 Resumo

O quarto componente da CNV aborda a questão do que gostaríamos de pedir uns aos outros para enriquecer nossa vida. Tentamos evitar frases vagas, abstratas ou ambíguas, e nos lembramos de usar uma linguagem de ações positivas, ao declararmos o que estamos pedindo, em vez de o que não estamos.

Quando falamos, quanto mais claros formos a respeito do que desejamos obter como retorno, mais provável será que o consigamos. Uma vez que a mensagem que enviamos nem sempre é a mesma que é recebida, precisamos aprender como descobrir se nossa mensagem foi ouvida com precisão.

Especialmente ao nos expressarmos para um grupo, precisamos ser claros quanto à natureza da resposta que desejamos obter. Caso contrário, poderemos estar iniciando conversas improdutivas que desperdiçam um tempo considerável do grupo.

Pedidos são percebidos como exigências quando os ouvintes acreditam que serão culpados ou punidos se não os atenderem. Podemos ajudar os outros a confiar em que estamos fazendo um pedido, e não uma exigência, se indicarmos nosso desejo de que eles nos atendam somente se puderem fazê-lo de livre vontade. O objetivo da CNV não é mudar as pessoas e seu comportamento para conseguir o que queremos, mas, sim, estabelecer relacionamentos baseados em honestidade e empatia, que acabarão atendendo às necessidades de todos.

Exercício 4 – Expressando pedidos

Para verificar se concordamos a respeito da clara expressão dos pedidos, indique em quais das frases a seguir a pessoa esteja claramente solicitando que alguma ação específica seja feita.

  1. Quero que você me compreenda.

Se você circulou esse número, discordamos. Para mim, a palavra compreenda não expressa claramente uma ação específica que está sendo solicitada. Em vez disso, a pessoa poderia ter dito: “Quero que você repita para mim o que você me ouviu dizer”.

  1. Gostaria que você me dissesse uma coisa que eu fiz de que você gostou.

Se você circulou esse número, concordamos em que a frase expressa claramente o que a pessoa está pedindo.

  1. Gostaria que você sentisse mais confiança em si mesmo.

Se você circulou esse número, discordamos. Para mim, a expressão “sentir mais confiança” não expressa claramente uma ação específica que está sendo solicitada. A pessoa poderia ter dito: “Gostaria que você fizesse um treinamento em pensamento afirmativo, que acredito que aumentaria sua autoconfiança”.

  1. Quero que você pare de beber.

Se você circulou esse número, discordamos. Para mim, a expressão “parar de beber” não expressa claramente o que a pessoa quer, e, sim, o que ela não quer. Ela poderia ter dito: “Quero que você me diga quais de suas necessidades a bebida satisfaz e que conversemos sobre outras maneiras de satisfazer essas necessidades”.

  1. Gostaria que você me deixasse ser eu mesma.

Se você fez um círculo em volta desse número, não concordamos. Para mim, a expressão “me deixar ser eu mesma” não expressa claramente uma ação específica que está sendo solicitada. A pessoa poderia ter dito: “Quero que você me diga que não vai abandonar nosso relacionamento, mesmo que eu faça algumas coisas de que você não goste”.

  1. Gostaria que você fosse honesto comigo a respeito da reunião de ontem.

Se você fez um círculo ao redor desse número, discordamos. Para mim, a expressão “ser honesto comigo” não expressa claramente uma ação específica que está sendo solicitada. A pessoa poderia ter dito: “Quero que você me diga como se sente a respeito do que eu fiz e o que gostaria que eu tivesse feito de modo diferente”.

  1. Gostaria que você dirigisse dentro do limite de velocidade.

Se você fez um círculo em volta desse número, concordamos que a frase expressa claramente o que a pessoa está pedindo.

  1. Gostaria de conhecer melhor você.

Se você fez um círculo ao redor desse número, não concordamos. Para mim, essa frase não expressa claramente uma ação específica que está sendo solicitada. A pessoa poderia ter dito: “Gostaria que você me dissesse se estaria disposto a se encontrar comigo para almoçar uma vez por semana”.

  1. Gostaria que você demonstrasse respeito por minha privacidade.

Se você fez um círculo ao redor desse número, discordamos. Para mim, a expressão “demonstrar respeito por minha privacidade” não expressa claramente uma ação específica que está sendo solicitada. A pessoa poderia ter dito: “Gostaria que você concordasse em bater na porta antes de entrar em meu escritório”.

  1. Gostaria que você preparasse o jantar mais vezes.

Se você fez um círculo ao redor desse número, não estamos de acordo. Para mim, a expressão “mais vezes” não expressa claramente uma ação específica que está sendo solicitada. A pessoa poderia ter dito: “Gostaria que você preparasse o jantar toda segunda-feira à noite”.

Desejamos que você tenha se beneficiado de alguma forma das dicas para exercitar cada vez mais uma forma assertiva e empática de se comunicar, ampliando sua rede de relações de forma positiva.

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