Assumindo a responsabilidade por nossos sentimentos e expressando nossas necessidades

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Assumindo a responsabilidade por nossos sentimentos e expressando nossas necessidades

A partir da compreensão de qual sentimento foi despertado, é preciso reconhecer quais necessidades estão ligadas a ele. O autor ressalta que quando alguém expressa suas necessidades com clareza, há uma possibilidade maior de que elas sejam atendidas.

Julgamentos, críticas, diagnósticos e interpretações    dos outros são todas inferências de nossas necessidades. Se alguém diz “Você nunca me compreende”, está na verdade nos dizendo que sua necessidade de ser compreendido não está sendo satisfeita. Se uma esposa diz “Você tem trabalhado até tarde todos os dias desta semana; você ama o trabalho mais do que a mim”, ela está dizendo que sua necessidade de contato íntimo não está sendo atendida.

Necessidades expressas indiretamente, através do uso de avaliações, interpretações e imagens costumam ser recebidas como críticas. E, quando as pessoas ouvem qualquer coisa que soe como crítica, elas tendem a investir sua energia na autodefesa ou no contra-ataque.

E, afinal, como as pessoas ouvem uma mensagem negativa? De acordo com a comunicação não violenta, existem quatro possibilidades de respostas:

1. Tomar aquilo como pessoal e escutar apenas acusação e crítica

Exemplo: alguém está zangado com você e diz:

😡Você é a pessoa mais egocêntrica que eu já vi!“.

Escolhendo tomar isso como pessoal, agimos assim: 😨Oh! Eu deveria ter sido mais sensível“. Aceitamos o julgamento da pessoa e nos culpamos. Isso sobrecarrega nossa autoestima, pois ela nos conduz a sentimentos de culpa, vergonha e depressão.

2. Culpar os outros

😡Você é a pessoa mais egocêntrica que eu já vi!”. Poderíamos protestar: 😠Você não tem o direito de dizer isso! Estou sempre levando suas necessidades em consideração! Você que é egocêntrico!“. Quando recebemos mensagens assim e culpamos o interlocutor, é provável que o sentimento básico seja a raiva.

3. Escutar nossos próprios sentimentos

Exemplo: 😡Você é a pessoa mais egocêntrica que eu já vi!“.

A isso, poderíamos responder: 🙂Quando ouço você dizer que sou a pessoa mais egoísta que você já viu, fico magoado, porque preciso de algum reconhecimento por meus esforços em levar em consideração as suas preferências“. Ao focarmos a atenção em nossos próprios sentimentos e necessidades, nos conscientizamos de que nosso sentimento atual de mágoa deriva da necessidade de que nossos esforços sejam reconhecidos.

4. Escutar os sentimentos e necessidades dos outros

Neste caso, poderíamos responder:

🕊️Você está magoado porque precisa de mais consideração por suas preferências?“. Aceitamos a responsabilidade, em vez de culpar as pessoas por nossos sentimentos, ao reconhecermos nossas próprias necessidades, desejos, expectativas, valores ou pensamentos.

Nos exemplos abaixo, perceba como as necessidades foram – ou não – expressas. E lembre-se: quanto mais assertivos formos em relação às nossas expectativas, maiores as chances de sermos atendidos.

Como praticantes da CNV, é importante não atribuirmos a responsabilidade pelos nossos sentimentos a outras pessoas. Por isso, ao se comunicar com alguém, ligue seu sentimento à sua necessidade. Confira:

👎🏼 “Sinto-me magoado porque você disse que não me amava”

👍🏼 “Sinto-me magoado porque eu queria estar com você na última noite de quinta-feira e queria ter ouvido que nosso relacionamento estava estável”.

A dor de expressarmos nossas necessidades versus a dor de não as expressarmos

É comum sermos julgados por identificarmos e revelarmos nossas necessidades. Por isso, quando nos expressamos de acordo com nossas necessidades, podemos nos sentir angustiados ou ansiosos – afinal, não sabemos como os outros irão reagir àquilo que trazemos. Muitas vezes, o indivíduo pode ignorar suas próprias necessidades e internalizar a crença de que devem apenas servir, por exemplo.

Dentro da concepção da Comunicação Não Violenta, as pessoas passam por alguns estágios que vão da escravidão emocional até a libertação emocional. Veja abaixo como o comportamento vai se alterando no lido com os outros:

1. Estágio da escravidão emocional

Vemos a nós mesmos como os responsáveis pelos sentimentos dos outros.

Achamos que devemos nos esforçar constantemente para manter todos felizes. Se eles não parecem felizes, sentimo-nos responsáveis e compelidos a fazer alguma coisa a respeito. Isso pode facilmente nos levar a ver as próprias pessoas que são mais próximas de nós como fardos.

2. Estágio ranzinza

Sentimos raiva e não queremos mais ser responsáveis pelos sentimentos dos outros.

Nesta fase, tomamos consciência do alto custo de assumir a responsabilidade pelos sentimentos dos outros e por tentar satisfazê-los em detrimento de nós mesmos. Quando percebemos quanto de nossa vida perdemos e quão pouco respondemos ao chamado de nossa própria alma, podemos ficar com raiva. Quando confrontados com os sentimentos das outras pessoas, costumamos fazer comentários ranzinzas como: “O problema é seu! Não sou responsável por seus sentimentos!”. Para nós, fica claro aquilo pelo que não somos responsáveis, mas ainda temos de aprender como ser responsáveis para com os outros de uma maneira que não nos escravize emocionalmente. À medida que emergimos do estágio da escravidão emocional, pode ser que continuemos a carregar resquícios de medo e culpa por termos nossas próprias necessidades. Assim, não surpreende que acabemos expressando essas necessidades de maneiras que parecem rígidas e inflexíveis para os outros.

3. Estágio da libertação emocional

Assumimos a responsabilidade por nossas intenções e ações

Agora, respondemos às necessidades dos outros por compaixão, nunca por medo, culpa ou vergonha. Desse modo, nossas ações estão nos realizando, assim como àqueles que são o objeto de nossos esforços. Aceitamos total responsabilidade por nossas intenções e ações, mas não pelos sentimentos dos outros. Nesse estágio, temos consciência de que nunca poderemos satisfazer nossas próprias necessidades à custa dos outros. A libertação emocional envolve afirmar claramente o que necessitamos, de uma maneira que deixe óbvio que estamos igualmente empenhados em que as necessidades dos outros sejam satisfeitas. A CNV foi elaborada para nos ajudar a conviver nesse nível.

Em resumo

O terceiro componente da CNV é o reconhecimento das necessidades que estão por trás de nossos sentimentos. O que os outros dizem e fazem pode ser o estímulo, mas nunca a causa de nossos sentimentos.

Quando alguém se comunica de forma negativa, temos quatro opções de como receber essa mensagem:

  1. Culpar a nós mesmos
  2. Culpar os outros
  3. Perceber nossos próprios sentimentos e necessidades
  4. Perceber os sentimentos e necessidades escondidos por trás da mensagem negativa da outra pessoa

Julgamentos, críticas, diagnósticos e interpretações dos outros são todas expressões alienadas de nossas próprias necessidades e valores. Quando os outros ouvem críticas, tendem a investir sua energia na autodefesa ou no contra-ataque. Quanto mais diretamente pudermos conectar nossos sentimentos a nossas necessidades, mais fácil será para os outros reagir compassivamente.

Num mundo onde com frequência somos julgados severamente por identificarmos e revelarmos nossas necessidades, fazer isso pode ser muito assustador, especialmente para as mulheres, que são ensinadas socialmente a ignorar as próprias necessidades para cuidar dos outros.

No decorrer do desenvolvimento da responsabilidade emocional, a maioria de nós passa por três estágios:

  1. Escravidão emocional (achamos que somos responsáveis pelos sentimentos dos outros)
  2. Estágio ranzinza (nos recusamos a admitir que nos importamos com os sentimentos e necessidades de qualquer outra pessoa)
  3. Libertação emocional (aceitamos com total responsabilidade nossos próprios sentimentos, mas não pelos sentimentos dos outros, e ao mesmo tempo temos consciência de que nunca poderemos atender às nossas próprias necessidades às custas dos outros).

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